domingo, janeiro 29, 2006

Nyonié

Aproveitei o final de semana para conhecer um pouco da região. Comprei um pacote turístico para Nyonié, que fica na reserva florestal de Wonga-Wongue.
Saímos no sábado de manhã, 1:05h de lancha pelo estuário, passando por uns rios totalmente intocados, somente com o mangue nas margens e florestas tropicais. Saltamos em um pequeno vilarejo (pequeno mesmo, umas 15 casas no máximo), somos recebidos por pick-ups que nos levam por uma estrada de terra e lama de uns 20km até chegar na pousada.

No meio do caminho nos deparamos com pegadas de elefantes que passaram por lá há poucas horas, e cruzamos o ponto exato onde passa a linha do Equador, indo para o hemisfério sul da Terra, passando por savanas e florestas lindíssimas.
A pousada é totalmente rústica, energia elétrica a base de gerador, quartos simples (com banheiros coletivos do lado de fora). No total éramos um grupo de 25 turistas, entre franceses, italianos, austríacos, um japonês e brasileiros.
A praia é totalmente selvagem, a água quente como no nordeste do Brasil, muitos siris pequenininhos e muitas toras de madeira nobre (estas toras são transportadas pelo mar, unidas por cordas. Em dias de mar agitado algumas de desprendem e vão parar nas praias da região).

Fizemos um "safari", mas na verdade só serviu para ver uns búfalos, um macaquinho de longe e uma cobra no meio da estrada - frustração, porque eu queria mesmo ver os elefantes.

No domingo, enquanto o pessoal da pousada acordava 5h da manhã para caminhar na floresta aproveitei para ficar na praia, no mar, vendo os golfinhos e curtindo o barulho das ondas e dos pássaros (sem ouvir vendedores de picoles, cerveja, etc como temos no Brasil...). Algo surreal.... A praia é maravilhosa...

Bom, resumindo: foi ótimo para sair da realidade de trabalho e recuperar as energias...

quarta-feira, janeiro 25, 2006

No Gabão

No momento estou em Libreville, a capital. Ela tem uma certa infra-estrutura, um bom hotel (Le Meridien), etc, mas não tem praticamente edifícios comerciais. As empresas aqui se estabelecem em apartamentos residenciais - então a recepção fica na sala e os escritórios/mesas ficam nos quartos.
A cidade fica à beira do que eles chamam de "estuário", que parece a foz de um rio, que dali vai desembocar no mar depois de alguns quilômetros. A água é escura, então não existem boas praias por aqui. As melhores ficam mais distantes, já no mar aberto (mas ainda não tive oportunidade de conhecer...)

O país tem 1,2 Milhões de habitantes, sendo 500 mil na capital. 10.000 estrangeiros. Colonização francesa. Mais de 80% do país é coberto de florestas tropicais. A economia é baseada no petroleo (a maior parte) e depois na extração de madeira. Tem o mesmo presidente há 39 anos!
Existem cerca de 40 grupos étnicos (o maior deles é o Fang), inclusive com uma pequena população de pigmeus (que vivem no meio da floresta, isolados do resto do mundo). Dentre as grandes etnias existe uma certa rivalidade (tanto que temos que ter cuidado ao contratar empregados para trabalhar em um determinado grupo, para não gerar conflito por serem de etnias diferentes).
Os homens costumam casar com várias mulheres (o que é um sinal de poder). As famílias vivem em geral da caça e agricultura de subsistência. Vemos sempre as mulheres buscando lenha na floresta para cozinhar, carregando tudo em uma espécie de mochila feita de palha. E os homens voltando da caça satisfeitos, mostrando suas conquistas (macacos, veados e outros bichos que não soube identificar) e comemorando a base de "vin de palm", que é uma bebida alcóolica que eles tiram das palmeiras, meio esbranquiçada.

As pessoas utilizam muito os curandeiros, que usam ervas e raízes das florestas para tratar os mais diversos males, inclusive malária (que tem muito por aqui). Mas essas técnicas também são utilizadas para "trabalhos", tipo "voodoo": para recuperar um amor, ou punir alguém que fez algum mal. E já ouvi alguns casos de pessoas que foram alvos de um destes "trabalhos" e morreram em questão de poucas semanas. Ah! E tem também um veneno famoso que eles usam por aqui, feito a base de fígado de pantera!
(por via das dúvidas vou ficar bem longe disso... :-))


Aí está uma foto da primeira vez que vim ao Gabão, em uma estradinha de terra entre Okondjá e Franceville. O pôr-do-sol na África é impressionante...

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Na Embaixada

Eu tinha uma reunião marcada com o Embaixador às 11h para poder liberar meu visto. Fui recebida muito amavelmente pela assistente, que me encaminhou para uma sala de espera, onde fiquei por uns quarenta minutos. Depois me chamaram para ficar na sala de espera ao lado da sala do Embaixador. Resutado: passei 2:30h esperando o Embaixador me receber por 5 minutos para liberar o visto!

Comentários:
- Aqui em Joburg a maioria dos vigias, porteiros, recepcionistas, etc são negros, e os cargos de maior nível em geral são preenchidos por brancos (ainda herança do Apartheid, problemas sociais, etc). Mas quando cheguei na Embaixada reparei que todos os empregados são negros (gaboneses) e os 2 vigias na entrada eram brancos (achei curioso!).

- O preconceito dos brancos contra os negros ainda é muito forte, mas "inibido". A pessoa que me levou na Embaixada em Pretoria era branca. Depois de me esperar por todo esse tempo, quando eu entrei no carro ela ficou reclamando "Monkeys, monkeys!", porque é inadmissível um atraso destes, e depois ficou relembrando a época de ouro quando se tinha o Apartheid, e os brancos podiam andar livremente nas ruas, era um país "como a Europa", todos tinham dinheiro, etc...

- Descobri através dessa mesma pessoa que a maioria dos jovens brancos de Joburg andam armados, devido à grande violência das ruas (como uma maneira de se proteger). E que essa mesma pessoa já foi salva pelo filho quando tentaram sequestrar o carro deles, dando vários tiros, e o filho que estava armado respondeu com mais tiros e os caras fugiram...

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Carro / Gabão

Finalmente meu carro chegou. Vamos ver se eu consigo dirigir direitinho, sem entrar na contra-mão de vez em quando... Finalmente poderei fazer compras no supermercado (antes que feche às 18h...) e jantar decentemente.

Estou indo pro Gabão na segunda-feira. Ficarei uma semana sem Libreville (a capital) depois vou para o interior (Franceville, que fica ao sul, e Makokou, que fica mais ao norte). Para Makokou será a primeira vez que vou (é uma cidade muito pequena, e infra-estrutura precária). Várias horas de carro vindo de Franceville, em estrada de terra no meio da floresta fechada, passando pelas comunidades que vivem na beira das estradas. Será uma experiência interessante, que contarei nos próximos posts.

A logística das companhias aéreas aqui é uma loucura. Um vôo por semana (2a. feira) de Johannesburg para Libreville, com escala no Congo Brazzaville, e um vôo de volta (4a. feira). As outras opções são:
- Air Gabon (que está falindo, cancela os vôos em cima da hora e não faz manutenção dos aviões);
- Ir para Paris e de lá ir para Libreville (custa uma fortuna).
Vou acabar indo 3 dias antes do dia que eu realmente precisaria estar lá, e voltar 5 dias depois do término dos meus compromissos, só por causa da falta de vôos....

Se eu tivesse muito dinheiro, montaria uma empresa aérea aqui na África!!

P.S.: o Embaixador do Gabão não quer liberar meu visto - já está até com o selo no passaporte, só faltando a assinatura dele... Porque como brasileira eu em teoria deveria tirar o visto no Brasil. Resultado: tenho que ir até Pretoria amanhã pessoalmente na Embaixada para resolver isso...

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Johannesburg

A vida aqui na África do Sul (principalmente em Johannesburg) gira em torno de quem tem carro.

Os transportes públicos são raros e ineficientes (podem até existir, mas eu nunca os vi).
Os táxis não são confiáveis (sempre com o risco de você não chegar no seu destino), e custam uma fortuna.
A maioria dos prédios não tem entrada de pedestres - quem está a pé (como eu), tem que entrar pela cancela da garagem.
Não é seguro andar na rua a pé, muito menos sozinha. O crime é um problema seriíssimo por aqui, principalmente crimes violentos – então, não se pode dar bobeira...

Resumo do meu final de semana: entrei em casa na sexta-feira à noite depois do trabalho (vim de carona, porque não posso voltar sozinha pra casa), e só sai segunda de manhã.
E ainda não tenho internet em casa, e o telefone não está funcionando. Quando resolvi ir para a piscina do prédio, começou o maior temporal.
Fiquei assistindo filmes na TV – sorte que eu pelo menos tenho TV a cabo!

Pior que nem pedir comida em casa eu consegui ainda, porque a taxa de entrega é uma fortuna (quase o preço da refeição!) - Estou me virando com o que eu tenho em casa.

Curiosidades:
- Cada província tem pelo menos um idioma nativo (que eram dos povos da região antes da colonização), além do inglês e do Afrikaans. Ou seja, são várias línguas oficiais no país. Aqui em Johannesburg tem o Zulu, que é a que os negros falam entre si. O Afrikaans é uma língua meio parecida com o holandês arcaico (porque aqui foi colonizado por holandeses e depois pelos ingleses). -- Acho que é por causa destes idiomas que as pessoas daqui tem o inglês com sotaque tão carregado. :-)

- Os shoppings e supermercados fecham às 18h todos os dias. Acho que só restaurantes e cinemas ficam abertos até mais tarde. Até onde eu ouvi falar ainda é uma herança do apartheid, quando os negros tinham o "toque de recolher" às 19h.
- Pra quem não sabe, aqui o trânsito é com mão-inglesa... (vamos ver como me adapto...)
- As pessoas não têm costume de sair para almoçar nos dias de trabalho - todos comem sanduíche no escritório mesmo, e saem às 17h “Sharp”
- só os brasileiros mesmo ficam até tarde da noite...
- É em Cape Town que fica o famoso Cabo da Boa Esperança (das nossas aulas de História do Brasil), e o Cape Point (o encontro dos Oceanos Atlântico e Índico). Lugares lindíssimos que vale a pena conhecer – recomendação para quem quiser fazer turismo por aqui.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Impressões


Estou na África pela 5a. vez. Já estive em Angola, Gabão, Moçambique e agora na África do Sul. Curioso, porque vim para a cá por conta própria 2 vezes antes de começar a vir a trabalho: em Angola em janeiro/2004, e na África do Sul em janeiro/2005 (Cape Town e Sun City), de férias - se eu soubesse teria esperado um pouco mais para não precisar gastar a passagem do meu dinheiro! :-)

Em Angola tive um primeiro choque:
Do avião você já vê uma cidade imensa, ruas de barro, casas feitas de tijolos de concreto e telhados de amianto, sem árvores (foto aí em cima, tirada da janela do avião)... Dentre as cidades e países que eu conheço, definitivamente Luanda é a mais caótica: prédios destruídos pelos 30 anos de guerra civil, muito lixo nas ruas, milhares de pessoas em situação précária de infra-estrutura de serviços, trânsito caótico. Naquele momento passei 15 dias convivendo com contrastes: condomínios maravilhosos, luxuosos, motoristas particulares nos Jeeps Prada, 4x4; quando saíamos do condomínio, nos deparávamos com a pobreza, miséria. Uma grande favela plana, que se estende por muitos quilômetros.

Quando estive pela primeira vez na África do Sul, primeiramente vi cidades maravilhosas, natureza exuberante, modernidade, porém, dentro da extensão urbana. Quando se sai da cidade, quilômetros e quilômetros de pessoas vivendo como os acampamentos do MST - barracos de lona, madeira, plástico. Um contraste social que impressiona.

A África é assim: um continente de diferentes culturas, povos, raças. Natureza exuberante, inexplorada, riquezas naturais, os "big five"... Porém uma terra com um grande histórico de conflitos, provocados pela irresponsabilidade dos países colonizadores, que dividiram povos, uniram em um mesmo território os rivais, o que gerou durante tantos anos guerras, destruição e miséria.

Mas o interessante é que quando saímos das grandes cidades, já "inchadas" e sofridas com o efeito favelização das tantas famílias que vieram em busca de oportunidades, temos a possibilidade ver cenas que de fato mostram a origem daquele povo, nos dando a chance de entender os seus valores, seu modo de vida.

E é isso que realmente faz a gente refletir: às vezes pensamos que ser "normal" é viver a nossa vida capitalista, ter o nosso trabalho, nossa família, ganhar nosso dinheiro para ter momentos de lazer, ter o sonho de conhecer a Europa e ver outras realidades de longe, mas sem nunca realmente entendê-las.
Mas tudo muda quando você passa por certas experiências, vendo que existem muitas maneiras de ser "normal", e o quanto é interessante entender as outras culturas, valores, modo de vida, e passar a ver as coisas de um outro ângulo.

Hoje posso dizer o quanto amo o meu trabalho, essa oportunidade de lidar com pessoas tão diferentes, e aprender tanto com cada uma delas.

(nos próximos posts poderei contar mais sobre cada lugar...)

Vida nova...

Engraçado... Na minha despedida do trabalho me pediram: "Envia de vez em quando suas impressões da África", daí eu respondi: "Boa idéia! Acho que vou criar um blog para compartilhar minhas experiências.".
Eu não imaginava que era tão fácil... Eu sempre tive um certo preconceito com essa história de Blog. Achei que nunca teria paciência, mas resolvi tentar.

Hope you enjoy it!