sexta-feira, janeiro 13, 2006

Impressões


Estou na África pela 5a. vez. Já estive em Angola, Gabão, Moçambique e agora na África do Sul. Curioso, porque vim para a cá por conta própria 2 vezes antes de começar a vir a trabalho: em Angola em janeiro/2004, e na África do Sul em janeiro/2005 (Cape Town e Sun City), de férias - se eu soubesse teria esperado um pouco mais para não precisar gastar a passagem do meu dinheiro! :-)

Em Angola tive um primeiro choque:
Do avião você já vê uma cidade imensa, ruas de barro, casas feitas de tijolos de concreto e telhados de amianto, sem árvores (foto aí em cima, tirada da janela do avião)... Dentre as cidades e países que eu conheço, definitivamente Luanda é a mais caótica: prédios destruídos pelos 30 anos de guerra civil, muito lixo nas ruas, milhares de pessoas em situação précária de infra-estrutura de serviços, trânsito caótico. Naquele momento passei 15 dias convivendo com contrastes: condomínios maravilhosos, luxuosos, motoristas particulares nos Jeeps Prada, 4x4; quando saíamos do condomínio, nos deparávamos com a pobreza, miséria. Uma grande favela plana, que se estende por muitos quilômetros.

Quando estive pela primeira vez na África do Sul, primeiramente vi cidades maravilhosas, natureza exuberante, modernidade, porém, dentro da extensão urbana. Quando se sai da cidade, quilômetros e quilômetros de pessoas vivendo como os acampamentos do MST - barracos de lona, madeira, plástico. Um contraste social que impressiona.

A África é assim: um continente de diferentes culturas, povos, raças. Natureza exuberante, inexplorada, riquezas naturais, os "big five"... Porém uma terra com um grande histórico de conflitos, provocados pela irresponsabilidade dos países colonizadores, que dividiram povos, uniram em um mesmo território os rivais, o que gerou durante tantos anos guerras, destruição e miséria.

Mas o interessante é que quando saímos das grandes cidades, já "inchadas" e sofridas com o efeito favelização das tantas famílias que vieram em busca de oportunidades, temos a possibilidade ver cenas que de fato mostram a origem daquele povo, nos dando a chance de entender os seus valores, seu modo de vida.

E é isso que realmente faz a gente refletir: às vezes pensamos que ser "normal" é viver a nossa vida capitalista, ter o nosso trabalho, nossa família, ganhar nosso dinheiro para ter momentos de lazer, ter o sonho de conhecer a Europa e ver outras realidades de longe, mas sem nunca realmente entendê-las.
Mas tudo muda quando você passa por certas experiências, vendo que existem muitas maneiras de ser "normal", e o quanto é interessante entender as outras culturas, valores, modo de vida, e passar a ver as coisas de um outro ângulo.

Hoje posso dizer o quanto amo o meu trabalho, essa oportunidade de lidar com pessoas tão diferentes, e aprender tanto com cada uma delas.

(nos próximos posts poderei contar mais sobre cada lugar...)

Um comentário:

João Francisco A. Enomoto disse...

Fala Ana, tudo bom? Sou amigo do seu irmão Renato e a convite dele via o blog dele, resolvi dar uma passada por aqui e conhecer um pouco da sua visão sobre a África. Antes de mais nada, achei bem legal o fato de assistir o filme O Jardineiro Fiel e ver que de fato existe muita correlação entre o que você descreveu e o que o filme mostrou. Talvez por isso eu não tenha me sentido tão chocado por ler tudo isso que você escreveu e comovido pela situação desse povo. Confesso que o que você fez, ter ido para a África a trabalho, é algo bastante corajoso e acredito que suas narrações serão bastantes fiéis aquilo que se sente quando se está em continente africano. Aguardo mais as suas narrativas!

PS: nunca despreze o poder de um blog! Começa com as narrativas pessoais de uma pessoa e termina como um verdadeiro diário literário das nossas vidas!